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Resenha "Sapiens, uma breve história da humanidade"

Atualizado: 24 de abr. de 2021


sapiens uma breve historia da humanidade

A essência de um livro não é apenas sua narrativa, é antes o conhecimento. Eu gosto de livros que me levam a outra dimensão e me fazem ficar sem comer ou levantar. Mas sou é apaixonada por aqueles que, em vez de me levarem para longe, me trazem para dentro da realidade. Livros que me acrescentam, que abrem alguma portinha escondida na minha mente e me trazem aquela sensação de esclarecimento.

Esses são raros de encontrar. Recentemente me deparei com um que ainda não consigo falar sobre sem soltar um “foda”. Porque para mim os livros se classificam em: horrorosos, mais ou menos, bons, maravilhosos e fodas. “Sapiens, uma breve história da humanidade” mudou minha vida. Ou quase.

Ele desencadeou uma série de reflexões construtivas. O livro é ambicioso, pretende resumir a história do homo sapiens em 400 páginas. E olha que consegue.

Ele constrói a narrativa do Homem partindo da biologia, tentando decifrar porque o homo sapiens dominou o mundo. Afinal, haviam vários outros homos, por que não eles? Ou por que uma raposa não poderia ter evoluido para ter raciocínio lógico? Como passamos de insignificantes macacos à donos do mundo?

A seleção natural não e necessáriamente ditada pelo "mais forte sobrevive". Nós somos frágeis, nascemos precisando de cuidados constantes e não temos armas como parte do corpo. Para tudo dependemos de ferramentas externas, que incorporamos quase como braços. O que haveria de ser de mim sem óculos?

O Sapiens não é o mais forte e não temos a certeza de que tenha sido o mais inteligente. Não fazemos ideia de como Neandertais ou Ergasters pensavam. Somos... diferentes. Andamos em duas pernas, nossos bebes nascem até com o crânio aberto, de tão pré-desenvolvidos que são e precisamos de mais comida para alimentar nossos cerebros grandes demais.


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Hoje lidamos bem com a inteligencia e com nossos corpos, mas deve ter sido difícil num contexto caçador/coletor, sem carros, parteiras ou facas. Yuval Harari pega questões presentes em todo o lugar e que não são tocadas. Ele me ensinou o que eu deveria ter aprendido na escola.

Na verdade é perigoso para nossas crenças culturais pensarmos tão longe na história. Indo atrás da antropologia e reconstruindo o passado vemos que somos uma série de acontecimentos aleatórios, evoluções, descobertas e revoluções. O que isso tem de estranho? Parece extremamente óbvio. Mas faz cair por terra a teoria de que nascemos sabendo, que somos criados prontos, aqui Adão e Eva não cabem, não podem ser mais do que um conto.

Já as primeiras páginas de "Sapiens, uma breve história da humanidade" rendem longas reflexões, um dos motivos que me fizeram demorar a terminá-lo. Ele questiona as bases da nossa cultura. Nos mostra que tudo o que temos são ideias e, claro que são, mas quem pensa nisso dessa forma?

"As pessoas facilmente entendem que "humanos primitivos" baseavam sua ordem social acreditando em fantasmas e espíritos, e caçando cada lua cheia para dançar ao redor de uma fogueira. O que nós falhamos em ver é que nossas instituições modernas funcionam exatamente nas mesmas bases. Pegue como exemplo o mundo das corporações. Pessoas de negócios modernas e advogados são, na verdade, poderosos feiticeiros. A principal diferença entre eles e os shamans tribais é que advogados modernos contam contos muito mais estranhos."

Ele nos conta, então, a lenda da Peugeot.

"Em que sentido nós podemos dizer que a Peugeot SA (a companhia com o nome oficial) existe? Há vários carros, mas eles não são, obviamente, a companhia. Mesmo se cada Peugeot no mundo fossem simultaneamente juntos e vendidos por sucata, Peugeot SA não iria desaparecer."

Tudo são ideias, as empresas são ideias, assim como um casamento. Há duas pessoas morando juntas numa cada, mas como podemos categorizar isso em um casamento? Ou pode haver muitos trabalhadores num prédio, mas por que seria isso uma empresa? São coisas que não são físicas, elas não existem, mas constituem uma entidade legal.

O livro quebra os paradigmas mais arraigados na nossa sociedade. Mostrando da forma mais lógica possível como chegamos a quem somos hoje. Esse livro me trouxe mais conhecimento, esclarecimento e reflexão do que um ano de aulas na faculdade. Ele não podia ter sido melhor para mim, mesmo que eu não concorde com todas as opiniões pessoais do autor que estão implícitas na obra, eu admiro a lógica e a maneira de escrever.

Autor: Yuval Noah Harari

Ano de publicação: 2014


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Júlia Orige

Blogueira de viagem, formada em Jornalismo e apaixonada pelo mundo.

 

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