Júlia Orige
26 livros ao redor do mundo pra você viajar sem sair de casa
Atualizado: 31 de mai. de 2021
Ler é uma das melhores formas de conhecer outras culturas e realidades. A literatura de um país reflete seus costumes, expõe seus problemas e exalta suas qualidades. É uma maneira de observar uma cultura crua, não a narrativa pronta que se passa quando se conta a história de um povo numa síntese.
O jeito de contar uma história fala muito sobre o narrador e tudo o que está por trás dele. Eu sempre gostei muito de ler, e adoro explorar novos autores ao redor do mundo. Acho muito especial como o jeito de contar histórias muda, como a visão de mundo é diferente.
Como uma forma de conhecer mais do mundo e viajar sem sair de casa durante essa pandemia, fiz uma lista com 26 livros ao redor do mundo que eu quero ler. Alguns deles eu já li e inclui aqui como indicação pra você.
Mas a maioria eu ainda não li, estão todos no meu kindle esperando sua vez.
Meus critérios para a escolha dos livros foi bem variado, alguns eu já conhecia de ouvir falar, outros vieram da lista de "livros favoritos de cada país" que andou circulando aí no Reddit. Eu tive alguma dificuldade em montar essa lista por causa das traduções.
Queria diversificar ao máximo, trazer mais literatura africana e asiática, mas não encontrei tantos autores diferentes com traduções em português. E alguns não encontrei o ebook pra comprar. Então essa lista foi limitada à livros que estão à venda em português.
Mas acho que já conseguimos ter uma boa amostra do mundo com esses 26 livros ao redor do mundo para viajar sem sair de casa
Ao longo do tempo quando eu for lendo cada um dos livros da lista vou voltar nesse post e incluir os links para as resenhas de cada um.
1 - Uruguai: Veias abertas da América Latina
Veias abertas da América Latina é a obra mais famosa de Eduardo Galeano, escritor uruguaio. Não é um livro ficcional, nem propriamente uma narrativa. Provavelmente vai ser uma das leituras mais densas dessa lista de livros.
O livro fala sobre a dominação e exploração da América Latina, sobre uma história sangrenta e feia.
Foi escrito na década de 60, então precisamos ter isso em mente. Nem tudo é atual, mesmo que muita coisa ainda seja. É um livro mais político, não estou esperando me divertir muito, só entender melhor a história da nossa parte do continente.
2. África do Sul: Desonra
Desonra se passa na África do Sul e é escrito por J. M. Coetzee, escritor sul-africano. Ele conta a história de um homem que caí em desgraça. É um professor de literatura que tem um caso com uma aluna.
Ele é acusado de abuso e expulso da universidade onde trabalha. Então ele sai para uma viagem pela área rural, onde ele entra em contato com uma África do Sul pós-apartheid.
Esse livro parece uma leitura extremamente instigante e verdadeira, mas ainda divertida.
3 - Alemanha: Doutor Fausto
Thomas Mann foi o primeiro autor a ter seus livros queimados em praça pública na Alemanha nazista. Doutor Fausto foi escrito no exílio, já que o autor precisou fugir da Alemanha no começo da guerra.
O livro foi publicado em 1956 e retrata as liberdades tomadas dos alemães em forma de romance. Doutor Fausto é uma ficção que fala da realidade.
O nazismo é algo que me assusta bastante, fiz uma viagem em 2017 pelo Leste Europeu e foi quase um intensivão Segunda Guerra Mundial. Estive em Berlim, Auschiwitz, Budapeste, Praga...
Acho muito interessante aprender sobre o absurdo que tomou conta da Europa nesse tempo. É horrível porque não faz tanto tempo assim, e não é como se estivéssemos livres de um novo holocausto. Mas é interessante entender como as coisas aconteceram.
4 - Angola: A Geração da Utopia
Pepetela é um autor angolano, descendente de portugueses. Eu já li alguns livros dele, na verdade. Morei em Angola durante minha adolescência (2 anos) e gosto muito de ler sobre a realidade africana.
Geração da Utopia trata de uma Angola em guerra civil, logo após a independência de Portugal em 1975.
Depois de conseguir se ver livre da colonização portuguesa, Angola passou 30 anos em guerra. Numa guerra de origem tribal, onde partidos políticos com propostas parecidas lutavam entre si, por uma desavença muito mais cultural do que política.
Eu morei em Luanda, capital de Angola. Fui para lá com meus pais, que foram trabalhar em uma universidade de tecnologias. Infelizmente não tive muitas oportunidades de conhecer o interior angolano, só conseguimos passear e conhecer a capital.
Luanda é extremamente superpopulada. A guerra nunca atingiu a capital, por isso muitas pessoas se mudaram para lá e não conseguiram voltar para o campo depois.
Um livro que eu amei muito do Pepetela foi Lueji, que trata um pouco mais das bases culturais do país. Caso você queira mais uma indicação.
5 - Rússia: A Estepe
Para representar a Rússia nessa lista de 26 livros ao redor do mundo eu escolhi A Estepe, de Anton Tchékhov.
Eu ando procurando livros sobre viagens, já que um dos meus objetivos é escrever livros sobre viagens. E quero explorar os diferentes estilos antes de lançar um meu.
A Estepe conta a viagem de um menino pelas vastidões da Rússia. É um relato ficcional de um observador.
6 - Argélia/França: O estrangeiro
Esse livro é genial, eu já li. Coloquei Argélia/França porque o autor é franco-argelino e minha orientação aqui de países é baseada no autor.
Alberto Camus escreve sobre... um psicopata. Tudo bem, ninguém diz ao longo do livro que é um psicopata, mas é isso. Alguém que é extremamente humano, mas não pode compreender as emoções humanas.
É um livro assombroso, lindo e chocante. A leitura é bem fácil e o livro é curto. Recomendo demais, é um daqueles livros que expande a cabeça.
7 - Turquia: Meu nome é vermelho
Esse livro parece bem ousado no estilo de escrita, são 19 narradores, incluindo um cadáver, um cachorro e o pigmento da cor vermelha.
É um romance que se passa no século 16 em Istambul, na Turquia. Ele fala de um romance intercultural que se dá em volta da produção de um livro encomendado pelo sultão para exaltar o Império Otomano.
8 - Japão: 1Q84
Faz muito tempo que eu venho recebendo recomendações de amigos para ler Haruki Murakami. O primeiro livro de 1Q84 ultrapassou 4 milhões de cópias vendidas só no Japão e conta a história de uma assassina e de um professor de matemática aspirante a escritor.
Esse livro (na verdade é uma trilogia) tem avaliações diversas e um tanto curiosas que me fazem pensar que eu só vou entender os comentários depois que entrar no clube privado dos fãs.
9 - Estados Unidos: O sol é para todos
O sol é para todos, de Harper Lee, é um clássico da literatura (talvez até mundial). Um daqueles livros que eu sempre ouvi falar mas nunca sequer soube sobre o que era.
O livro conta a história de um advogado branco que defende um homem negro que é acusado de estuprar uma mulher branca, num Estados Unidos dos anos 30.
Parece bem interessante e bem americano, achei adequado.
10 - Bielorússia/Ucrânia: Vozes de Tchernóbil / Chernobyl
Svetlana Aleksiévitch reúne nesse livro os relatos de pessoas que passaram pelo desastre nuclear de Chernobyl. Os relatos são arrepiantes, num formato de reportagem jornalística bem feita.
Eu ainda não li, apenas ouvi umas partes uns tempos atrás. Alguém leu pra mim um dos relatos da esposa de um dos homens que trabalhavam na usina. Acho que poucas coisas me doeram mais do que as palavras daquela mulher.
Perder a pessoa que você ama para a radiação é... inimaginável.
Coloquei esse livro na lista porque já estava querendo ler há tempos e é uma das viagens que eu quero fazer ainda. Pra Chernobyl.
Já ouvi dizer que outros livros da autora são muito bons também.
11 - Índia: O deus das pequenas coisas
Esse livro ganhou o prêmio britânico Booker Prize de 97 e foi publicado em 36 países. Arundhati Roy conta a história de gêmeos indianos que são separados por 23 anos.
E voltam a se encontrar na casa da família no interior. Estou bem ansiosa para ler esse, parece uma daquelas narrativas que te transporta para o local e a realidade cultural.
Como não conheço quase nada da Índia, acho que vai ser interessante.
12 - Austria: O homem sem qualidades
Robert Musil conta a história de um homem comum, um matemático, que não é belo nem feio, em nada se destaca e vive a eclosão da Primeira Guerra Mundial em Viena.
Ok, desse livro eu estou com um pouco de medo. Tem 1200 páginas. E é um daqueles momentos que eu agradeço pelo meu Kindle, o livro está gratuito pra quem tem assinatura prime mas o impresso custa mais de 100 reais.
13 - Líbano: Eu matei Sherazade
Esse foi o único que eu comprei em versão impressa, não tinha versão ebook e estava 14 reais na Amazon.
Eu matei Sherazade é um livro escrito por uma mulher árabe "fora do padrão" árabe. Seu objetivo é quebrar os estereótipos sobre o que é uma mulher árabe, ao mostrar que ela existe, sendo alguém que tem voz, que escreve, que é até - "pervertida".
Ela tenta mostrar a realidade fora do estereótipo que conhecemos no Ocidente, mas sem negar que ele exista de fato.
Quer saber mais sobre o Kindle? Deixei uma resenha no canal:
14 - Inglaterra: Grandes esperanças
Mais um autor de quem eu ouvi falar a vida toda mas nunca abri um livro. Charles Dickens é um grande ícone da literatura inglesa e esse é o seu último romance.
É uma narrativa sobre um órfão: Pip, que é criado pela irmã mais velha de forma rígida demais. Quando cresce ele rejeita a família, como um mecanismo de resposta ao trauma da infância.
Esse livro foi escrito em formato de folhetim para uma revista inglesa originalmente, na segunda metade de 1800.
15 - Chile: A Casa dos Espíritos
A Casa dos Espíritos é o primeiro livro de Isabel Allende, que foi marcada como a primeira escritora latino-americana a conquistar um sucesso tão grande de vendas.
O romance fala da saga da família Trueba e se passa entre 1907 até 1975, dando um panorama da história chilena nessa época.
Sim, envolve uma casa assombrada, estou ansiosa pra chegar nessa parte também.
16 - Colômbia: Amor em tempos de cólera
Ah, esse é um dos meus livros favoritos. Li no ano passado (2020) e chorei horrores, talvez por uma leve identificação com os amores deixados pra depois e então perdidos no tempo.
Gabriel Garcia Marquez é um dos meus autores preferidos, nesse livro ele escreve sobre um amor que durou a vida toda mas levou décadas e mais décadas para se concretizar.
A história gira em torno do amor (e obsessão) de Florentino Ariza por Fermina Daza. Eles se apaixonaram na adolescência, mas o pai de Fermina impede o casamento e a manda para longe. Ela acaba se casando com outro e permanece casada com ele até que ele morre, tentando pegar um papagaio numa árvore aos 70 anos.
O amor de Florentino Ariza espera todo esse tempo, para se declarar por ela no funeral do marido. Esse livro é sobre um amor de uma vida inteira, que espera para se realizar. Sobre alguém que passa a vida esperando para viver esse amor.
Mas ele não espera sentado, veja bem. Florentino teve todas as experiências que quis, só nunca amou ninguém como amou a Fermina Daza.
Como pano de fundo do romance temos a epidemia de Cólera que assolou Cartagena das Índias no final do século 19.
Veja aqui a resenha de Amor nos tempos de cólera no meu canal do YouTube
17 - Somália: O pomar das almas perdidas
A narrativa é focada em três mulheres, que vivem na segunda maior cidade da Somália e vão nos conduzir pela guerra civil que se instaura no país.
São três mulheres comuns, bem diferentes entre si, com idades diferentes e funções diferentes na sociedade. Eu sempre gosto muito de histórias sobre mulheres, e a escritora é uma mulher também então acho que vou gostar bastante desse livro.